"Natureza" da Mulher: um olhar para e do interior oculto

Há quem defenda que os homens olham para o nosso corpo e não conseguem ver imediatamente os nossos órgãos genitais externos; o nosso triângulo, tão conveniente, que esconde os contornos da vulva. Ao mesmo tempo, esses mesmos homens “morrem” para ultrapassar o portal de pêlos e as dobras exteriores, para chegarem ao mais oculto dos órgãos genitais internos, a nave sagrada da vagina. Os homens querem o que não conseguem ver! Não admira, pois que a mulher seja associada à interioridade.

Mulher: a taça, a urna, a caverna.... Somos o mistério profundo! Somos dobras ocultas e sabedoria primordial e sempre, sempre o ventre, a transportar a vida, a dar luz à vida, e depois a sugá-la de novo para dentro daquelas dobras húmidas e infernais…Assim, a sexualidade masculina, penetra (como alguém disse um dia, que não consigo recordar) no domínio obscuro da mitologia…

Porém, questiono-me se seremos realmente taças e garrafas, naves e caixas?Porventura somos aranhas encurraladas na teia dos nossos ventres, ou aranhas cegas que vivem no submundo da nossa dissimulação…

Mas seremos assim tão interiores e obscuras?Caramba! Claro que não!Somos nem mais nem menos do que os homens. É verdade, os homens têm pénis (dah, evidência pura), que parecem exteriorizá-los, conferindo-lhes poder e resposta, para além dos seus corpos, mas as sensações transmitidas pelo pénis, tal como as que são transmitidas pelos clítoris, são sentidas internamente; não é verdade que mesmo os dedos dos pés sentem o orgasmo, independentemente do sexo respectivo do dono?

Nas cabeças, os homens são, tal como as mulheres, prisioneiros da fábula da mente universal. Por outro lado, nem os homens nem as mulheres sabem muito bem o que é que os nossos corpos interiores estão a fazer num dado momento, qual é o papel do fígado, do coração, das hormonas, dos neurónios. Ainda assim, a posse de toda essa actividade orgânica poderosa, oculta, de modo algum envolve os homens ou as mulheres numa aura de mistério….