Rizia Ziliani não sabe se descrever. Por isso, eu, Rizia – o lado desinibido e sem vergonha - falarei sobre ela. Adora dizer coisas viajadas, odeia o tal do falar baixo e não foi apresentada ao tio desconfiometro. Quando criança comia besouros e qualquer ser que se movia ou ameaçava mexer, desde então tem sérios problemas com comida e sofre da síndrome da comelança. Adora compartilhar informações desnecessárias, fazer perguntas sem nexo e tem uma imaginação um pouco mais avantajada que os coleginhas da sala. E qualquer reclamação que tiver dela, sugiro que fale com a senhora sua avó.

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18:50





Convido vocês a uma viagem pela história.
Não são as décadas que nos transformam, são os fatos.
Eles vão cavando buracos no tempo e criando caminhos que não podemos prever. Há épocas lentas, épocas em correria, épocas de altos e baixos. Há épocas sangrentas, épocas eufóricas. Há épocas que parecem ataques epiléticos da história. Há épocas sujas, limpas. Mas para onde nos levam os fatos históricos? Antigamente achávamos que os fatos nos levariam para um futuro harmônico, que a vida era uma linha reta que nos marcavam, desde os macacos, até o paraíso cristão, ou paraíso socialista ou recentemente o paraíso do fim da história do capitalismo. hoje estamos mais desiludidos, pois nossa época parece um labirinto de boas e más notícias, com mais más, do que boas. Uma teia do homem aranha, um deserto do Iraque de idéias. O vazio cérebro do Bush, o futuro cheio de terrores, como nos piores pesadelos de ficção científica. Antes sonhávamos com o futuro, hoje temos o pavor que ele chegue. Pode ser que mude nosso terror, se houver algo com que nos iludamos. Uma volta ao bom censo na política do mundo, ai talvez vivamos de novo com esperança, como vivíamos quando a TV Globo foi fundada (nosso circo).
Em 65, 1965 o mundo não era muito melhor que hoje, só que não tínhamos consciência disso. Os dez anos de 65 a 75 foram um túnel que se estreitou pouco a pouco. Da liberdade, para a desesperança. No Brasil o golpe militar de 64 ainda não tinha assumido a sua face feroz, do ato número 5, ainda tínhamos o simpático E.T. que era o Castelo Branco, feio por fora mais um sujeito legal por dentro.
"-ou a revolução continua, ou a revolução se desagrega." Costa e Silva
Depois dele o autoritarismo se fechou, chegando até a ditadura feroz do ato 5 de 68.
Esse ritmo de mudança foi semelhante aos anos de 65 até 75. A passagem da esperança para a progressiva desilusão de que a felicidade bateria um dia em nossa porta.
Na década de 60 ainda se comemorava a paz depois da guerra mundial. Com a euforia democrática movida pela prosperidade do capitalismo. O mundo era dos jovens. Era o oásis do pós-guerra. Havia já o Vietnã. Cuba invadida. Mas o clima das cabeças era de alegria. As saias curtas, as pernas de fora, as pílulas anticoncepcionais, fazendo sexo livre. As revoluções gráficas desenhando um mundo ideal junto à publicidade. Havia um clima de ousadia e de fé com a crença de que tudo era fácil de resolver, de que era simples fazer revoluções, que o socialismo viria dançando de Cuba. Que os Beatles e os Rolling Stones nos libertariam para sempre da caretice. Até a revolução cultura chinesa em 66 nos parecia uma maravilhosa novidade jovem. Não sabíamos ainda dos crimes e dos cadáveres.
"-chegamos a terra prometida" Martin Luther King
Os líderes do sonho começaram a morrer. Guevará saiu de Cuba em busca da utopia e foi denunciado pelos próprios camponeses na Bolívia, e morreu como um cristo desmoralizado na selva. No Brasil o radicalismo aumentava na esquerda e na direita
"-a gente precisa ficar sabendo de uma vez por todas que eles sempre vão apelar para a violência, e ai de nós se não nos prepararmos para essa violência." Wladimir Palmeira
O estudante Edson Luiz foi assassinado em março de 68 que começou o processo que acabou no ai 5.
"-minha vida vê a gloriosa chegada do Senhor" Martin Luther King
logo depois King foi assassinado nos EUA. A direita começava a retomar seus pontos perdidos. Em maio de 68 o mundo explodiu o mundo todo, desde a rebelião de estudantes na França, até os campos de K. dos EUA.
E começamos a entender que o buraco do mundo era mais em baixo, alias bem mais em baixo. Que não bastavam palavras de ordem e boas idéias para vencer o conservadorismo. As boas novas vinham sempre anuladas por um desastre qualquer. A chegada do homem a lua um dos grandes momentos da história humana foi ao mesmo tempo em que Sharon Tei mulher de Polag, grávida foi morta à apunhaladas por um bando de hippes enlouquecidos. A paz, o amor e a flor, foram virando rancores, medo, ódio. Logo depois o festival de Hoodstock tentou manter viva a esperança, mas a esperança já estava ferida de morte.
Aqui a guerrilha urbana conseguiu seu maior orgor que foi o rapto do embaixador americano Elvelin, igual o milésimo gol de Pelé entrou no dia 19 de novembro de 69, junto também com a chegada do Médice ao poder com sua cara de vampiro radical enquanto Merguela morria em São Paulo, tudo ao mesmo tempo.
"-eu não tenho conhecimento do escândalo Watergate." Richard Nixon
E assim fomos seguindo até o fim de 75 com progressivo fechamento da esperança com os fatos ficando menores menos históricos e mais episódicos. Com as tragédias virando chanchada e as alegrias caindo em melancolia era como se a grande história estivesse certada impedida e só as pequenas bobagens pudessem acontecer, prenunciando um período futuro de inanidade de irrelevância.
"-eu sei o que faço, sei sempre o que estou fazendo, as pessoas pensam que estou louco, mas estou certo" Glauber Rocha
Ao menos fomos ficando famintos de liberdade que só chegou dez anos depois dessa década que se fechou em outubro de 75, com o enforcamento do jornalista Vladimir na ponta de um cinto caído de uma janela em um prédio de SP. Nesses dez anos fomos aprendendo que sem democracia não há vida.


Posted by ◦ RiZiA ZiLiANi ◦